sábado, 31 de janeiro de 2009

Quando Nos Tornamos Pais


Costumo dizer que todos deveríamos ser pai e mãe, pois não existe experiência mais enriquecedora do que esta. É uma experiência rica por vários motivos, que vão além da alegria de ter um filho sorrindo e solicitando por você ou da certeza da perpetuação da nossa espécie, é uma experiência rica principalmente pela grande oportunidade de evoluirmos como ser humano, tomarmos uma consciência maior do outro e de nós mesmos. Mas a grande pergunta é: “Estamos preparados para sermos pais?” E como esse preparo se dá? Não existe manual e nem fórmulas mágicas, mas existe um excelente caminho rumo à maternidade/paternidade que é o autoconhecimento. Através dele podemos acessar as nossas experiências enquanto filho, pois é com elas e através delas que vamos caminhar educando os nossos pequenos.
É importante descobrir a nossa verdade infantil, como fomos educados e que tipo de pais tivemos, o que eles nos ensinaram e como nos cuidaram física e emocionalmente.
Uma boa parte da nossa experiência infantil, mesmo as mais inconscientes, vem à tona no momento em que nos tornamos pais, especialmente porque cuidar de um filho nos remete ao momento em que fomos cuidados ou descuidados pelos nossos pais. Você deve e pode perguntar: Como as nossas experiências infantis reaparecem e como elas se manifestam na nossa relação com nossos filhos? Antes de responder quero compartilhar duas falas que frequentemente escuto de adultos: “mas eu era tão pequena e não me lembro de nada” ou “as crianças nem se dão conta do que estão vivendo” A maioria das pessoas prefere pensar assim, que a sua história passada não determina a sua história presente e, dessa forma, vivem a ilusão de que suas vidas não são determinadas por elas, e o pior que a criação de seus próprios filhos não sofre nenhuma influência de seu passado infantil. Mas uma pessoa que carrega necessidades infantis não satisfeitas de amor, atenção, afeto, carinho, cuidados físicos, etc. tentarão suprir essas carências em seus próprios filhos, por exemplo, através de um excesso de cuidado, ou de uma terrível dominação, chantagens emocionais ou fazendo dos seus filhos seus confidentes.
Os maus tratos recebidos na infância levam algumas pessoas, por exemplo, a destruir a própria vida e de outros, quando falo em destruir, não me refiro apenas ao fato de dar fim a vida física, mas sim também de tornar a sua própria vida e a dos demais insuportável. Muitos pais batem em seus filhos, pois apanharam quando criança, outros abusam física e emocionalmente porque sofreram o mesmo, e assim o trauma é perpetuado. A teoria do trauma fala dentre muitas coisas, uma que acho particularmente importante, que todo trauma* tende a se repetir na tentativa de elaboração. Por exemplo, é bem provável que filhos que apanharam estarão envolvidos em relações de maus tratos quando adultos e podem maltratar seus filhos, com isso estarão tentando inconscientemente entender e ou resolver as suas dores psíquicas.
Não podemos mudar os fatos acontecidos em nosso passado, mas podemos dar um novo significado para as nossas experiências, e isso é possível no momento em que decidimos olhar com compaixão para a nossa infância e nos permitimos aceitar a verdade sobre nós mesmos.
Gosto dentre muitas, de uma frase de Nietzsche: “Aquilo que não me mata só me fortalece”, esse é um lembrete poderoso de que as nossas experiências dolorosas podem nos auxiliar a nos tornamos mais fortes.
Cuidar do nosso passado infantil não é tarefa fácil, pode ser uma jornada densa e cansativa, mas vai nos auxiliar a encontrar respostas para muitas questões antes não resolvidas e o melhor de tudo, podemos cuidar de maneira saudável de nossos filhos, sem corrermos o risco de repetir com eles e neles os nossos dramas infantis.

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*O significado psicanalítico da palavra “trauma” refere-se a um fato, realmente acontecido, de que tenha tido alguma importante repercussão no psiquismo do sujeito.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Crianças e Adolescentes Vitimas de Abuso Sexual


Há pouco tempo atrás falar abertamente sobre abuso sexual* de crianças e adolescentes era um verdadeiro tabu. A grande maioria dos casos era escondido por vergonha e medo. Hoje a realidade está um pouco diferente, mas os adultos, por motivos diversos, ainda preferem, manter o silêncio, fazendo de conta que nada está acontecendo, pois expor e enfrentar a situação de forma aberta e corajosa implica em mexer em uma ordem familiar estabelecida.
Por conta deste interminável sigilo, as crianças e os adolescentes tornam-se involuntariamente cúmplices de sua própria dor, sendo obrigadas a assumirem sozinhas as terríveis conseqüências físicas e psicológicas do abuso.
O abuso acontece sempre que a criança ou o adolescente estão sozinhos. Este terrível segredo é difícil de ser partilhado, pois tanto a criança quanto o adolescente teme a punição ou não acreditam na capacidade do adulto de protegê-los. Se não conseguem falar é porque não tem mais confiança no adulto. Outros, quando falam, são desacreditados e acusados de sedução. Para um vitima não há nada pior do que se abrir para algum que duvida dela.
R.C. Summit (1983) descreveu a síndrome de acomodação da criança e adolescente vítimas de abusos sexuais: “Se o diagnostico de abuso não foi feito, e se as pessoas não acreditam na criança ou no adolescente, os distúrbios são mais discretos e eles aprendem a aceitar a situação e sobreviver a ela, sob o risco de as conseqüências só se manifestarem mais tarde na forma de graves problemas de personalidade”.
As nossas crianças e os nossos adolescentes estão sequelados pelo excesso de abuso que sofrem e é o nosso dever ajudá-los. Romper com o silêncio e acreditar na vítima do abuso é um primeiro e importante passo.
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* A Organização Mundial de Saúde define o abuso sexual da seguinte maneira: “A exploração sexual de uma criança ou adolescente implica que esta seja vítima de um adulto ou de uma pessoa sensivelmente mais idosa do que ela com a finalidade de satisfação sexual desta. O crime pode assumir várias formas: ligações telefônicas obscenas, ofensa ao pudor e voyeurismo, imagens pornográficas, relações ou tentativas de relações sexuais, incesto ou prostituição de menores”.

A Amizade para as Crianças


As crianças fazem amigos de maneira muito diferente dos adultos. Isso é muito fácil de observa, é só olhar duas crianças desconhecidas e ver como elas interagem. Elas se olham, sorriam e muitas vezes sem palavras em excesso elas iniciam um relacionamento.

Na medida em que elas vão se encontrando mais vezes, elas vão se sentindo confiantes e mais conectadas uma com a outra. Essa forma de conexão é a grande diferença entre amigos crianças e amigos adultos. Nós adultos determinamos como queremos os nossos amigos, o que eles devem ou podem fazer pela gente e como precisam se comportar para manter a amizade. Para as crianças não existem regras definidas, elas simplesmente são amigas, sem cobranças e acima de tudo, sem expectativas. Isso se dá porque as crianças vivem a vida no presente, elas não pensam como querem que seja o amanhã e o que querem que seus amigos façam para que ela se sinta mais feliz, elas aproveitam o que está acontecendo agora.

Na verdade, temos muito que aprender com esses pequenos mestres. Dia após dia eles nos dão grandes lições. Uma delas é sobre o perdão: quando duas crianças brigam, por mais “grave” que tenha sido o motivo, logo elas conseguem fazer as pazes, pois para elas tudo é mais simples e não precisam ficar remoendo os motivos que as levaram a tal briga. Simplesmente elas decidem brincar de novo.
Crianças não perdem amigos, elas fazem novas amizades, não existem crianças amigas que deixaram de ser amigas, elas podem até deixar de se encontra porque mudaram de escola, ou de bairro, mas no próximo encontro na praça, elas estarão se falando com a mesma energia, intensidade e graça de antes.
Nós adultos estamos sempre buscando a fórmula mágica para os relacionamentos e estamos sempre reclamando por não encontrar. Então, aqui vai uma pequena dica: observem mais as crianças se relacionando e aprendam!
“Quem não muda sua maneira adulta de ver e sentir e não se torna como criança jamais será sábio.” Rubem Alves

domingo, 18 de janeiro de 2009

Crianças Hiperativas ou Crianças Ativas?

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma realidade para muitas crianças, mas muitas vezes confundimos hiperatividade com a atividade cotidiana de nossos pequenos. A criança por si só é uma aventureira, uma exploradora sem limites, uma impulsiva por natureza, o que em geral acontece é que não permitimos que elas investiguem, explorem, pois temos muitos medos: medo que caiam, que se machuquem, que se sujem demais ou que não consigam nos obedecer na hora em que temos que dizer: já chega por hoje.
Sem nos darmos conta vamos limitando o enorme potencial de descoberta que nossos filhos possuem, provavelmente porque temos medo de ousar e não sabemos bem como permitir isso em nossos filhos.
É importante ressaltar que as crianças com TDAH apresentam dificuldade para manter a atenção e a impulsividade, pois geralmente se sentem menos confiantes e seguras. Muitos pais optam por medicação para amenizar os sintomas do TDAH, pois querem ver seus filhos bem. É claro que a medicação* ajuda, mas não substitui pais cuidadosos, disponíveis e atenciosos, assim como um bom grupo de amiguinhos, um professor competente e experiências de vida agradável.
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* A decisão de ministrar medicamentos a uma criança deve se basear em uma avaliação neuropsicológica e psicológica completas, incluindo a análise por escrito feitos sobre o comportamento da criança do ponto de vista dos pais e dos educadores.