domingo, 26 de abril de 2009

Algumas Dicas de Educação



Atrevo-me a lançar este tema, não por me julgar uma perfeita educadora, mas por acreditar que todos nós podemos educar com amor e sem violência os nossos filhos. Sei que todos nós somos capazes, apenas precisamos saber como fazer isso.

Estamos contaminados com padrões antigos de educação. Precisamos solta-los e nos permitir aceitar o novo. O tempo mudou, as crianças estão diferentes e mais exigentes. Ser autoritário não faz mais efeito positivo na educação. As crianças querem respeito, carinho, atenção e amor.

É claro que elas ainda precisam de limites para que cresçam de forma saudável e alguns desses limites são definidos pelas regras de convivência. Assim como não podemos bater em um colega de trabalho, elas também não podem bater nos colegas ou em qualquer pessoa em casa ou na rua. Esse tipo de limite é diferente daqueles que usamos para proteger as crianças, como por exemplo, quando impedimos que atravessem a rua sozinha. Muitas crianças desafiam os limites na tentativa de ter a certeza de que são cuidadas e amadas.
É importante ressaltar que não existe apenas um jeito certo para educar. As dinâmicas familiares e relações estabelecidas são diversas e é no dia-a-dia que você encontrará as melhores formas de educar seus filhos, de acordo com as características de cada um deles. Educar é um processo diário e as mudanças muitas vezes levam tempo.

Educar exige paciência!
Depois de um dia inteiro de problemas, mães e pais chegam em casa e precisam cuidar dos filhos. E as crianças querem atenção, nem sempre obedecem logo, pedem tudo. É muita pressão.
Nessa hora a palmada ou um tapinha de leve parecem uma boa idéia. Apenas parece. Por favor, não cai nessa tentação!

Muitos pais que dão comida e beijinho de boa noite, de vez em quando aparecem com o chinelo na mão. Que controvérsia assustadora para as crianças. Para não apanhar, elas passam a preferir a distância e o silêncio. Mentem para evitar brigas, escondem seus erros. Aos poucos, quase nada se resolve sem gritos ou ameaças. E o resultado disso é que as crianças, ao invés de respeitar os pais, ficam com medo deles.Muitos pais apelam para a violência porque é comum acreditar que é a melhor forma de manter a autoridade e de proteger os filhos. Sabemos, ou pelo menos deveríamos saber que não é bem assim. Existem formas carinhosas de educar que dão resultado.
Confira e tente!

1. Se acalme. Esta é a palavra de ordem. Respire fundo antes de chamar a atenção do seu filho. Evite discutir os problemas quando estiver com raiva. A raiva nos faz dizer coisas que provavelmente vamos nos arrepender, que magoam e assustam. É claro que ele vai perceber a sua raiva, e você pode e deve afirmar que está aborrecido, mas isso não significa que deve descarregar a sua ira nele (a).

2. Conversar com a criança, tentando entende-la e não impondo o seu ponto de vista. Entender porque algo está acontecendo ao conversar com a criança é o primeiro passo para juntos vocês encontrarem a solução.

3. Mostre à criança o comportamento mais adequado dando o seu próprio exemplo. Beber suco diretamente da garrafa irá ensiná-lo que esse é um comportamento adequado. Assim como falar mal das pessoas depois de encontrá-las. Seu filho aprenderá muito mais com o seu exemplo do que com o que você diz a ele sobre o que é certo ou errado. Isso vale também para os pequenos atos de higiene do cotidiano: escovar os dentes, lavar as mãos antes de comer, etc. É mais fácil para a criança criar e manter essa rotina se você também a realiza.

4. Jamais recorra a tapas, insultos ou palavrões. Como adultos não queremos ser tratados assim quando cometemos um erro, então não devemos agir assim com nossos filhos! Devemos tratá-los da maneira respeitosa como esperamos ser tratados por nossos colegas, amigos ou pessoas da família.

5. Não deixe que a raiva ou o stress que acumulou por outras razões se manifestem nas discussões com seus filhos. Pode parecer difícil, mas é perfeitamente possível separar as coisas. Temos a terrível tendência de descarregar as nossas tensões nos mais frágeis. Por favor, seja justo e não espere que as crianças se responsabilizem por coisas que não lhes dizem respeito. Caso esteja aborrecido com o seu chefe, não pense que o choro de seu filho é o motivo de toda a sua raiva.

6. Converse sentado, somente com os envolvidos na discussão. Isso contribui para uma melhor comunicação. Mantenha um tom de voz baixo e calmo, segure as mãos enquanto conversam - o contato físico afetuoso ajuda a gerar maior confiança entre pais e filhos e acalma as crianças.

7. Considere as opiniões e idéias dos seus filhos. Tomem decisões juntos, comprometendo-o com os resultados esperados. Se tudo funcionar bem, dê parabéns. Se não funcionar, avaliem o que aconteceu de errado.

8. Valorize e elogie. Pequenos elogios sobre bom comportamento nunca são demais! Por exemplo: ela colocou a roupa suja no cesto de roupas? Elogie. Assim como o desenho que fez; o fato de ter conseguido colocar a calça sozinha, de contar uma história para você ou colocar algo no lugar que você pediu.

9. Expressar de forma clara quais são os comportamentos que não gosta e te aborrecem. Explique o motivo de suas decisões e ajude-os a entendê-las e cumpri-las. As regras precisam ser claras e coerentes para que as crianças possam interiorizá-las.

10. "Prevenir é melhor que remediar”. Sempre que for fazer algo com seus filhos, esclareça sobre o que é e se algo precisa ser feito por eles. Essa atitude estabelece uma relação de confiança e cumplicidade entre vocês. Por exemplo: Você precisa fazer compras e terá que levar com você seu filho pequeno. Diga a ele aonde irão e o que vão fazer. Você pode deixá-lo ajudar nas compras; conversar com ele sobre o que está comprando – peça-lhe para falar o que ele acha de um determinado produto; se for uma criança mais velha, ela pode ter maior mobilidade e ir pegar outros produtos enquanto você está em outro setor do supermercado.

11. Peça desculpa. Elas aprendem mais com os exemplos que vivenciam do que com os nossos discursos. Desculpar-se é um ato de amor e respeito. Coloca-nos mais próximo de nossos filhos, nos torna mais humanos.

12. “Não espere nada que a idade não permita” Esta é uma frase que sempre uso, pois temos a tendência de exigir demais de nossos filhos. Uma criança de um ano e meio já consegue se alimentar sozinha e este é um comportamento que deve ser estimulado pelos pais, mas ela não consegue faze-lo sem se lambuzar. Exigir que a comida não caia no chão é um pouco demais.

Espero ter ajudado em algo.
Abraços,
Lila

domingo, 5 de abril de 2009

Não bata. Eduque!


Quem me conhece sabe que sou uma defensora da não violência contra crianças e adolescentes, por isso, escrever sobre esse tema é acima de tudo um dever.

O meu trabalho com crianças me permite escutar pais e filhos e ter uma visão mais realista de como a educação está equivocada. É claro que a intenção dos pais é de ajudar e educar os seus filhos, mas o que observo é que existe um enorme abismo entre esse desejo e a ação.

Muitos já devem ter escutado a frase: “Pedagogia da Palmada”. Ela mostra claramente um problema sério, que é a banalização do uso da violência como meio de solucionar conflitos. Além disso, ensina a criança que a violência é uma maneira plausível e aceitável. Já perguntei para muitas crianças que apanham de seus pais, o que elas pensam. Pasmem, mas elas acham que é certo, pois fazem “bobeira” e merecem apanhar. É claro que elas não gostam nem um pouco, mas estão convencidas através da ação dos pais, que bater e apanhar é o certo. Não lhes é mostrado outro caminho, então é claro, elas vão acreditar no que é dito e feito.

A realidade é que as punições corporais e psicológicas contra crianças e adolescentes, tais como as palmadas, castigos, chineladas e ameaças, são práticas habituais em quase todas as famílias, e o pior de tudo é que são encarados como ferramentas essenciais para “educar e disciplinar” os filhos. Poucos levam a sério o fato de que o castigo físico e humilhante poderá ter reflexos negativos ao longo da vida da criança; sem falar que constituem uma violação aos Direitos Humanos fundamentais, atentando contra a dignidade humana e a integridade física das crianças e adolescentes.

É bom lembrar que o uso do castigo físico infligido a uma pessoa faz parte de um “ciclo de violência”. Entretanto, muitos pais ainda não enxergam dessa forma, pois esta metodologia educativa está fortemente legitimada em nossa sociedade. Assistimos a programas que ensinam como castigar nossos filhos. Existem muitos livros que ditam normas cruéis sobre como punir e disciplinar. Os pais que utilizam a tapa, a palmada ou a chinelada para “educar” o fazem acreditando que estão fazendo o melhor, mas não percebem o estrago por trás dessa ação. Não vêem que estão abusando da diferença de poder que existe numa relação entre um adulto e uma criança.

Se a violência física contra um adulto não é aceitável socialmente, sendo passível inclusive de sanções legais, porque contra a criança deve ser aceita? Essa é uma pergunta intrigante.

Muitos não têm conhecimento dos efeitos que o bater provoca em seus filhos. Pensam que a criança esquece ou nada assimila. Engano terrível. Existem conseqüências nada positivas nas crianças vítimas de violência doméstica. As consequencias não podem ser generalizadas para todas as crianças, pois depende da experiência de vida de cada uma e da configuração familiar. Entretanto, uma conseqüência direta do uso do castigo físico é o aprendizado equivocado de que a violência é certa e soluciona conflitos e diferenças. A partir desse aprendizado, a criança irá manter o mesmo tipo de relação com outras pessoas, como na escola, com os irmãos e amigos, com os pais, etc. Sem falar em conseqüências psicológicas freqüentes, tais como introversão, medos desconhecidos, baixa auto-estima, insegurança, timidez, excesso de passividade e submissão.

Muitas vezes, a agressão física ou psicológica acaba acontecendo num rompante, não sendo uma prática cotidiana. Quando isso acontecer, sente com seu filho e seja sincero com ele, explicando que perdeu o controle e que se arrepende por isso. Este tipo de atitude é um ótimo exemplo de humildade e de respeito para com o outro. Ao sentar para conversar, você estará dando um ótimo exemplo de que pedir desculpas não é algo do qual a criança deva se envergonhar e de que errar é humano, que nem sempre vocês pais, irão acertar em tudo, apesar de sempre desejarem o melhor para ele. Aproveite o momento para ouvir a criança e procurar, juntamente com ela, estabelecer as “regras” de boa convivência para todos dentro de casa.

Agora se você usa a pedagogia negra* para educar, valer-se do que foi citado no parágrafo anterior não vai adiantar de nada, só vai lhe criar um problema maior, pois ao bater cotidianamente e pedir desculpas, você vai transmitir insegurança, desrespeito e o quanto a sua palavra não tem o menor valor. Antes de tudo você precisa parar de bater e encontrar uma maneira mais humana de educar aqueles que você tanto ama.

Um simples exemplo da perda de controle dos pais, é quando estão cansados demais após um dia de trabalho e descarregam em seus filhos todo o seu estresse. Junto com a criança, você pode conversar e estabelecer que, quando estiver cansado, você precisará de um tempinho para respirar fundo, relaxar e, então, dar a atenção de qualidade que ela merece.
 
Acredito ser importante esclarecer quais são os castigos físicos e humilhantes. A lista é grande, mas cito aqui apenas os mais usuais nas famílias:
· Palmadas
· Beliscões
· Tapinhas na mão
· Pontapés
· Puxão de cabelo
· Rejeição ou desqualificação da criança ou do adolescente
· Bater com a mão ou com um objeto (vara, cinto, chicote, sapato, fios, etc.)
· Xingamentos, humilhações
· Castigos excessivos, recriminações, culpabilização
· Ameaças
· Uso da criança como intermediário de desqualificações mutuas entre os pais em processo de separação
· Responsabilidades excessivas para a idade
· Sacudir ou empurrar a criança
· Clima de violência entre os pais e de descarga emocional em cima da criança
· Obrigá-la a permanecer em posições incômodas ou indecorosas
· Obrigá-la a fazer exercícios físicos excessivos.
· Surras
· Chacoalhar a criança, etc.
Educar não é difícil, mas vai exigir de você paciência e amor. Costumo dizer que antes de qualquer casal decidir ter um filho, eles precisam decidir se estão dispostos a educar. Para isso vão precisar de algum tempo disponível, paciência, respeito e amor para com seus pequenos.

Não delegar a educação dos filhos a terceiros é um precioso passo para a educação de qualidade.

Decidi compartilhar algumas perguntas que frequentemente escuto e percebo que é comum para muitos pais.

“Não tenho autoridade com meus filhos. O que fazer para que eles me respeitem?”- Ser autoritário e ter autoridade sobre os filhos são coisas diferentes. Os pais autoritários geram filhos com medo, insegurança e ressentimento. Ao contrário, pais com autoridade a conquistaram com respeito e diálogo. As crianças aprendem a se relacionar com os adultos a partir da maneira como eles se relacionam com elas. Sabemos que a criança precisa de limites. A idéia não é remover os limites e a disciplina da educação e da criação dos filhos, mas utilizar formas de disciplina sem o uso da violência.

Meu filho está agressivo e não obedece. Já tentei fazer várias coisas e não quero bater. Como dar limites sem bater? O que faço?- Parto do princípio que todas as crianças devem crescer em um ambiente livre de violência e que o diálogo – mesmo com os muito pequenos – deve sempre prevalecer. Uma criança que apanha ou é humilhada vai aprender que os conflitos se resolvem desta maneira. A agressão e a desobediência são um reflexo de uma educação inadequada, e para corrigir um aprendizado equivocado, somente com muita calma e amor. Certamente a criança aprendeu a agredir por defesa e a não obedecer por não acreditar mais nos pais. O processo agora é de reconquista: converse com calma com o seu filho. Muitas vezes as crianças testam os nossos limites e o nosso amor. Se quando a criança grita ou tem um comportamento agressivo e os pais cedem ao que ele quer, ele vai aprender que gritando e caindo no chão ele consegue o que quer. Uma dica: sempre que for falar com eles sobre a atitude que está tendo, abaixe-se para ficar da altura dele e olhe nos olhos. Repita até que ela apreenda o comando que você está dando. Lembre-se que o tempo e a forma como as crianças entendem as coisas é bem diferente do nosso. A paciência é indispensável.

"Apanhei quando criança e sou uma boa pessoa, não aconteceu nada comigo". Porque não devo educar meus filhos da mesma maneira?- Essa pergunta é a mais comum de todas. Embora muitas pessoas acreditem que "não aconteceu nada", castigos deixam sentimentos de raiva, ressentimento, rancor, medo e frustração. Apesar de muitos pais acharem que “educar batendo deu certo”, acredito que “educar sem bater”, com diálogo, respeito e participação fortalece o relacionamento com seus filhos, cria respeito, confiança. Educar com violência acaba legitimando a idéia de que a melhor forma de resolver conflitos é através da violência. Posso quase afirmar que você não gostava nadinha de apanhar, não é mesmo?

Acredito que a forma de educar meus filhos é assunto de minha família. Porque uma questão privada deve ser discutida na “sociedade”?- O castigo físico é uma forma de violência social e viola o direito da proteção integral da criança e do adolescente. A Convenção sobre os Direitos da Criança, ratificada por 130 países, dentre eles o Brasil, recomenda expressamente que as punições corporais na família, na escola e nas instituições penais, sejam proibidas por todos os signatários. O que para muitos parece uma simples questão privada acaba tendo reflexos negativos para toda uma sociedade. Um exemplo é a questão da violência contra a mulher. Até algumas décadas atrás, a violência contra mulher também era considerada um ”problema privado”, e muitos países ainda consideram que a mulher é “propriedade” do homem. No entanto essa situação vem mudando, sendo que muitos países já possuem legislações exclusivas para o tema, e a mulher é progressivamente vista como sujeito de direitos nas mesmas condições que qualquer outro cidadão. Sendo as crianças indivíduos vulneráveis, garantir a sua integridade física e moral é dever de todos: da família, da comunidade e da sociedade. Absolutamente não é um assunto da sua família, é um assunto da sociedade!

Porque eliminar castigos físicos e humilhantes deve ser uma prioridade, quando existem violências mais severas, como o abuso sexual por exemplo?- Por serem amplamente aceitos, e, portanto também corriqueiros, os castigos físicos e humilhantes acabam sendo deixados em segundo plano na luta pela garantia dos direitos das crianças. Todavia, as razões acima são justamente as que fazem deste tema prioritário nessa luta. Trabalhar pela erradicação dos castigos físicos é uma forma de eliminar todas as formas de violência contra crianças, afirmar que existe um “limite” entre violência leve e grave é uma forma equivocada de abordagem, pois ignora a criança como um sujeito de direitos.
Finalmente, todas as formas de violência estão inter-relacionadas e devem ser combatidas igualmente, começando pelos nossos lares.

Abaixo um vídeo para reflexão.
Abraços,
Lila

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*Pedagogia Negra - termo usado pela psicóloga e escritora Alice Miller para definir uma educação desrespeitosa e com violência.
- Fonte que ajudou na postagem: Manual dos direitos da criança e do adolescente.