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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A continuação do Abuso


Foto retirada da net e editada por mim.
Foto retirada da net e editada por mim
 
Tenho visto essa foto circulando pela mídia e percebo que ela tem chocado os mais conscientes e extraído risos dos que ainda não percebem além do senso comum.
Quando vi a imagem pela primeira vez, uma pergunta me veio à mente: “O que poderia estar pensando e sentindo a pessoa que tirou a foto?”.
 
A nossa sociedade vem vivendo a perpetuação de uma cultura de abuso. Os pais que estimulam esse tipo de comportamento em seus filhos ou com outras crianças, provavelmente têm feridas antigas de abuso.
 
Uma vez falando sobre esse tema, uma pessoa me perguntou: “Todos nós temos traumas de infância, então porque não agimos da mesma maneira?”. Dentre muitas possíveis respostas, escolhi uma: “Porque percebemos e digerimos as experiências de maneiras diferentes.”
 
Deformando Personalidades
 
Experiências traumáticas podem deformar a nossa personalidade. Por isso é importante buscarmos ajuda para cicatrizar as nossas feridas antigas.
 
A tomada de consciência e o conhecimento da verdade que nos assombraram (ou assombram) podem ser libertadores e nos ajudar a caminhar em harmonia conosco e com os que dependem de nós.
 
Criança Ferida
 
Todo adulto tem dentro de si uma criança ferida. Em muitos há feridas enormes que deformam personalidades, tornando adultos cruéis e insensíveis; e são estas feridas que promovem a perpetuação do ciclo do abuso.
 
Algumas pessoas que foram vítimas de abusos (sejam físicos, emocionais ou sexuais) durante a infância, podem não ter tido a oportunidade de desenvolver uma qualidade essencial para a vida em sociedade, a empatia. E tornaram-se como soldados prestes a atirar, puxa o gatilho na primeira oportunidade que tem para descarregar a dor de dentro de si.
 
Pessoas profundamente machucadas e sofridas são como bombas relógio que inconscientemente estão prestes a explodir. A explosão é uma maneira de extravazar a raiva, o medo e o abuso sofrido.
 
Ciclo do Abuso
 
O ciclo do abuso pode ser identificado de diversas maneiras, como por exemplo: Nos pais que abusam de seus próprios filhos; nos profissionais da lei que abusam de seu poder; nas mulheres que não valorizam seu corpo e os expõem em excesso ou colocam-se em risco sem a menor consideração ou respeito por elas mesmas; no excessivo uso de álcool e no consumo de drogas, etc. São muitas as maneiras que permitimos equivocadamente, sair de dentro de nós, o medo, o terror e a repulsa por abusos sofridos.
 
Tomada de Consciência
 
Uma das mais eficazes maneiras de romper com o ciclo de abuso é a tomada de consciência. Quando agimos sem nos questionar, nos tornamos robotizados e passamos em frente os nossos medos na tentativa de curá-los. A teoria do trauma fala bem sobre isso: Quando vivenciamos uma situação traumática (toda experiência que não digerimos bem e que consideramos inacabadas, como uma perda, um acidente, uma doença), tendemos a repeti-la inconscientemente na tentativa de resolvê-la de vez.
 
O nosso inconsciente tem uma sabedoria, ele entende que não vamos viver em paz enquanto determinados traumas dentro de nós estão inacabados. Traumas geram mais traumas e abusos geram mais abusos. É um ciclo. Por isso é importantíssimo a tomada de consciência e o encerramento dos ciclos. Caso contrário, continuaremos perpetuando-os de maneira errada, como expondo crianças em cenas abusivas e nos divertindo com elas, assim como quem nos abusou no passado se divertiu e nos expôs.

domingo, 23 de maio de 2010

Transtorno de Conduta. O que é isso?

Quem assistiu ao filme Toy Story conhece bem o personagem de um garotinho chamado Cid. Ele destrói todos os seus brinquedos e os da sua irmã. Cid tem um dos comportamentos típicos de crianças e adolescentes com Transtorno de Conduta. Esses pequenos que se divertem com o sofrimento dos outros, seja um animal ou um amigo chamam a atenção pela agressividade exagerada e falta de empatia.

O que é o Transtorno de Conduta? - "É um padrão repetitivo e persistente de comportamento que viola regras sociais importantes em sua idade ou os direitos básicos alheios" (ABP - Associação Brasileira de Psiquiatria)

Bem, nenhum menor de 18 anos pode ser chamado de psicopata, uma vez que sua personalidade ainda não está formada. Nesses casos, usamos o termo "Transtorno de conduta". Calma! Não quero dizer que as crianças com transtornos de conduta serão psicopatas no futuro, mas não posso deixar de ressaltar que esse transtorno revela um forte risco. Assim como nem toda criança com TC será um psicopata, mas todo psicopata sofria de TC.

Quando o comportamento de uma criança ou adolescente deve nos preocupar?
Quando mentem ou furtam com frequencia, desrespeitam regras constantemente, maltratam animais ou a outras crianças e demonstram agressividade excessiva. É claro que certo grau de malvadeza é aceitável na infância e adolescência, pois faz parte do desenvolvimento. Vamos dar um desconto! Até mesmo porque o TC é caracterizado pela repetição, e não por atos isolados. Eles podem vir acompanhados de hiperatividade e déficits graves de atenção.

Costumo dizer que não devemos cobrar nada de ninguém que a idade não permita. Por isso, não exija capacidade de julgamento (consciência do que pode ou não fazer) ou analise de limites de crianças menores de 7 anos. Somente a partir desta idade é que essa capacidade se desenvolve. Por exemplo: Quando um menino de 6 anos coloca o gato no microondas, ele não sabe o risco que está expondo o animal, mas um menino de 8 anos sabe. É claro que existem exceções em relação a idade como no famoso caso da menina inglesa de 2 anos chamada Mary Bell (1968). Já nesta idade era muito diferente de qualquer outra criança. Nunca chorava quando se machucava e destruía todos os seus brinquedos. Aos 4 anos precisou ser contida ao tentar enforcar um amiguinho na escola. Aos 5 anos, viu um colega sendo atropelado e não demonstrou nenhuma reação emocional. Depois da alfabetização, ficou incontrolável: pichava paredes na escola, incendiou a sua casa e maltratava animais. Aos 11 anos, Mary matou por estrangulamento dois meninos (3 e 4 anos) sem dó e piedade. Antes de ser julgada, Mary foi avaliada por psiquiatras e psicólogos e teve como diagnóstico um gravíssimo transtorno de conduta. Mary foi um caso clássico e raro de psicopatia na infância. Muitos psicopatas sofreram abuso na infância, seja físico, sexual ou psicológico. O caso citado reuniu todos os fatores.

O que torna uma criança com tendência a psicopatia?
Existem três fatores de risco: a predisposição genética, um ambiente hostil e possíveis lesões cerebrais no decorrer do desenvolvimento. Esses fatores não atuam sozinhos, eles precisam de terreno fértil. Quando a criança se encontra em um ambiente hostil, violento e com carência de afeto, os sintomas podem se manifestar.
Até então, não se conhece a cura para a psicopatia em adultos, no entanto existe a chance de mudar o comportamento de crianças com o transtorno de conduta e evitar que se tornem transgressores mais tarde.

Um abraço,
Lila
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Fonte & Sugestão de Leitura:
Gritos no vazio - A história de Mary Bell - Gitta Sereny. Editora: Gutenberg
Teorias da Personalidade - Howard S. Friedman & Mirian W. Schustack

sábado, 31 de janeiro de 2009

Quando Nos Tornamos Pais


Costumo dizer que todos deveríamos ser pai e mãe, pois não existe experiência mais enriquecedora do que esta. É uma experiência rica por vários motivos, que vão além da alegria de ter um filho sorrindo e solicitando por você ou da certeza da perpetuação da nossa espécie, é uma experiência rica principalmente pela grande oportunidade de evoluirmos como ser humano, tomarmos uma consciência maior do outro e de nós mesmos. Mas a grande pergunta é: “Estamos preparados para sermos pais?” E como esse preparo se dá? Não existe manual e nem fórmulas mágicas, mas existe um excelente caminho rumo à maternidade/paternidade que é o autoconhecimento. Através dele podemos acessar as nossas experiências enquanto filho, pois é com elas e através delas que vamos caminhar educando os nossos pequenos.
É importante descobrir a nossa verdade infantil, como fomos educados e que tipo de pais tivemos, o que eles nos ensinaram e como nos cuidaram física e emocionalmente.
Uma boa parte da nossa experiência infantil, mesmo as mais inconscientes, vem à tona no momento em que nos tornamos pais, especialmente porque cuidar de um filho nos remete ao momento em que fomos cuidados ou descuidados pelos nossos pais. Você deve e pode perguntar: Como as nossas experiências infantis reaparecem e como elas se manifestam na nossa relação com nossos filhos? Antes de responder quero compartilhar duas falas que frequentemente escuto de adultos: “mas eu era tão pequena e não me lembro de nada” ou “as crianças nem se dão conta do que estão vivendo” A maioria das pessoas prefere pensar assim, que a sua história passada não determina a sua história presente e, dessa forma, vivem a ilusão de que suas vidas não são determinadas por elas, e o pior que a criação de seus próprios filhos não sofre nenhuma influência de seu passado infantil. Mas uma pessoa que carrega necessidades infantis não satisfeitas de amor, atenção, afeto, carinho, cuidados físicos, etc. tentarão suprir essas carências em seus próprios filhos, por exemplo, através de um excesso de cuidado, ou de uma terrível dominação, chantagens emocionais ou fazendo dos seus filhos seus confidentes.
Os maus tratos recebidos na infância levam algumas pessoas, por exemplo, a destruir a própria vida e de outros, quando falo em destruir, não me refiro apenas ao fato de dar fim a vida física, mas sim também de tornar a sua própria vida e a dos demais insuportável. Muitos pais batem em seus filhos, pois apanharam quando criança, outros abusam física e emocionalmente porque sofreram o mesmo, e assim o trauma é perpetuado. A teoria do trauma fala dentre muitas coisas, uma que acho particularmente importante, que todo trauma* tende a se repetir na tentativa de elaboração. Por exemplo, é bem provável que filhos que apanharam estarão envolvidos em relações de maus tratos quando adultos e podem maltratar seus filhos, com isso estarão tentando inconscientemente entender e ou resolver as suas dores psíquicas.
Não podemos mudar os fatos acontecidos em nosso passado, mas podemos dar um novo significado para as nossas experiências, e isso é possível no momento em que decidimos olhar com compaixão para a nossa infância e nos permitimos aceitar a verdade sobre nós mesmos.
Gosto dentre muitas, de uma frase de Nietzsche: “Aquilo que não me mata só me fortalece”, esse é um lembrete poderoso de que as nossas experiências dolorosas podem nos auxiliar a nos tornamos mais fortes.
Cuidar do nosso passado infantil não é tarefa fácil, pode ser uma jornada densa e cansativa, mas vai nos auxiliar a encontrar respostas para muitas questões antes não resolvidas e o melhor de tudo, podemos cuidar de maneira saudável de nossos filhos, sem corrermos o risco de repetir com eles e neles os nossos dramas infantis.

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*O significado psicanalítico da palavra “trauma” refere-se a um fato, realmente acontecido, de que tenha tido alguma importante repercussão no psiquismo do sujeito.