sexta-feira, 25 de junho de 2010

Sobre Meninos e Lobos

"Soldados americanos conversando com crianças afegãs em Maruf-Kariz Distrito de Dand"

"Oito jovens acusados de envolvimento no incêndio a ônibus que matou 14 pessoas no domingo são presos em El Salvador"

"Menino Afegão brincando com uma velha roda. Atrás, um soldado afegão"

"Bombeiro em resgate na região atingida por temporais em Alagoas"

Pego emprestado o título em português do filme de Clint Eastwood (Mistic River) e a história para o título deste post. Lendo o jornal, algumas manchetes e fotos me chamaram a atenção. Jovens violentos, meninos curiosos, soldados, bombeiros. Cada um com uma ação diferente. Uns ajudando, outros provocando dor.

No filme de Clint, a história conta sobre três amigos de infância que voltam a se reunir depois que um deles vive uma tragédia familiar. Tudo começa em um flashback mostrando o trio na adolescência, brincando na rua e escrevendo seus nomes em uma calçada de cimento fresco. Dois homens que se identificam como policiais surpreendem os garotos, repreendem o ato e levam o mais ingênuo do grupo, Boyle. O problema é que ele na verdade é sequestrado e abusado sexualmente pelos farsantes. Um fato que marcará profundamente não só sua vida, mas de todos os três. Trinta anos depois, cada um deles seguiu seu caminho. Boyle agora é um homem casado, mas que não esconde a imagem de um sujeito atormentado pelo passado. Jimmy é um comerciante que tem um histórico criminoso e que tenta levar a vida com a esposa e três filhas. Os dois continuam próximos, ao contrário de Sean, que se afastou e virou policial do departamento de homicídios.
O filme mostra um recorte do que acontece na vida real. Mas, o que determinou o caminho que cada um decidiu seguir? O destino? as suas experiências de vida? os seus traumas? O que torna uns homens diferentes dos outros? Porque alguns jovens se envolvem em ações violentas? É claro que a resposta não é simples, pois envolve muitas questões. Mas vou me deter a educação que damos aos nossos filhos. 

Penso que a educação, a maneira de interagir, os exemplos e ensinamentos sobre amor, solidariedade, compaixão, respeito, afeto, etc que damos aos nossos filhos, ajudam a determinar o caminho que irão seguir no futuro. Então somos responsáveis por quem e pelo que criamos? Sim! O papel de pai e mãe é o mais importante que exercemos na vida. Está em nossas mãos o desenvolvimento de um ser saudável.
Assistindo a um outro filme (Robin Hood) em uma determinada cena um soldado que estava morrendo, pede à Robin que leve a sua espada ao seu pai, pois ele o amava e o considerava demais. Robin diz ao soldado que sabia pouco sobre amor e relacionamento entre pai e filho, pois seu pai o abandonou quando ele tinha 5 anos. A cena deste filme mostra com clareza a realidade do cotidiano de muitas crianças que não aprenderam sobre amor, sobre relacionamento, sobre solidariedade e quando adultos vão reproduzir esse vazio.

Quando vejo cenas como as das fotos acima, me compadeço desses meninos que se tornaram homens com um imenso vazio no peito, vazio que poderia ter sido preenchido com tanta coisa boa e bonita, mas não foi... Rezo para que eles encontrem pelo caminho outros homens bons e que tenham compaixão por eles.

Deixo aqui um pedido para uma reflexão sobre como estamos nos relacionando com os nossos filhos, o que estamos desenvolvendo neles. O que podemos mudar nessa relação e que façamos isso logo.
Com carinho,
Lila

terça-feira, 15 de junho de 2010

Expressando a Raiva

Todos nós já vimos uma criança com raiva. Se você ainda não viu uma, espere até ter um filho... Elas não estão nem um pouco preocupadas em esconder esse sentimento. Quando estão iradas a fisionomia, postura corporal, o tom de voz e os gestos mudam. Aquele anjinho vira uma fera. O primeiro impulso delas é bater, chutar e gritar.

A raiva é importante e natural, mas não podemos permitir que nossos filhos saiam batendo em todo mundo que encontram pela frente em um acesso de raiva. Eles precisam saber diferenciar entre raiva e violência. Violência é a raiva que saiu errado.

Então como podemos ajudar os nossos filhos a estarem confortáveis com esse sentimento?

Costumo dizer que a raiva tem voz e uma razão. Estimule a criança a dizer em voz alta que está com raiva e por que. Ex: “Eu estou com raiva de você porque não me deixou brincar no computador!”. Entender a raiva e um treino e pode levar algum tempo, então tenha paciência e persistência.

Quando as crianças não conseguem dizer o motivo da raiva, você pode dar uma ajudinha. Ex: “Você acha que eu cheguei tarde demais do trabalho hoje? É por isso que está chateado?”

Escute a raiva de seus filhos. Entenda que eles não querem lhe desafiar e nem medir forças, querem apenas ser ouvidos, compreendidos.
Certo dia meu filho ficou muito bravo comigo porque eu não queria deixá-lo fazer algo que me parecia perigoso. Ele muito irritado gritou: “Vou embora dessa casa e não volto mais!” Penso que ele queria me dizer: “Estou com muita raiva de você, principalmente quando não me deixa fazer o que eu quero. Deve ter um lugar melhor para morar” (ou algo assim). Diante daquela fala percebi que precisávamos conversar e deixar algumas coisas esclarecidas. Abaixei-me na altura de seus olhos e lhe disse: “Se você for embora desta casa eu irei junto, pois você é muito importante para mim e vou sentir a sua falta”. Ele me abraçou e chorando disse: “Mas mamãe, você não me deixa brincar”. Conversamos sobre o que aconteceu e naquele momento tudo ficou bem. Mas, não pensem que a cena não se repetiu (Lembram que entender e expressar a raiva é um treino?). Houve outras situações onde ele ficou com raiva e não soube se expressar. Hoje em dia, ele já consegue dizer: “Estou com raiva por (tal motivo)”.

Você é o melhor modelo a seguir para seus filhos, então seja bom nisso. Dê o exemplo! Filhos aprendem melhor sobre a raiva quando tem pais expressivos, muito mais do que com pais sempre contidos. As crianças precisam saber que seus pais são humanos. Quando você estiver com raiva, expresse isso a elas sem insultá-las ou maltratá-las, é claro. Diga as razões da sua raiva e use o tom de voz firme. Ex: “Estou brava com você porque não cumpriu o nosso acordo”. Expressar as nossas emoções de maneira saudável vai nos ajudar a educar os nossos filhos com respeito, empatia e amor.

Abraços,
Lila

Eduque com Respeito

Trabalho na área clínica atendendo pessoas de todas as idades. Adoro estar com elas e poder compartilhar um pouco do íntimo universo de cada um. Sinto-me verdadeiramente honrada!

Aqui confesso a minha paixão pelo trabalho com crianças e adolescentes, em especial com a orientação de pais. Não é um trabalho fácil, como muitos tendem a pensar. É extremamente delicado, pois lido com as crianças/adolescentes (o que é mais simples e deliciosamente gratificante) e com seus pais. É impossível atender esse universo de clientes sem fazer um elo de comunicação com os pais, pois muitas vezes o que os filhos pensam e como se comportam é oriundo dessa relação.

Duas coisas me chamam a atenção no trabalho de orientação de pais: A dificuldade que eles tem em estabelecer limite e educar com firmeza.

Entendo perfeitamente porque os pais estão um pouco perdidos nesse mundo moderno, onde o educar virou um grande dilema. Muitos se perguntam: Faço como os meus pais fizeram? Ou educo da maneira “moderna”. Bem, é aí que todo o problema começa. Não existe a maneira moderna, existe a maneira certa, sempre houve. Os nossos pais estavam tão perdidos quanto nós estamos.

É claro que muito tem se falado sobre a educação de filhos e antigos conceitos foram repaginados e muitos livros editados. Hoje em dia temos mais acesso a informações, ao cuidar de nós mesmos, ao que ler. Mas o que fazer com tudo isso? Como pôr em prática tudo o que ouvimos e lemos?

Num certo dia escutei a queixa de um casal sobre o seu filho de cinco anos: “Não sabemos mais o que fazer. Ele não nos ouve, só faz o que quer” (esta tem sido uma queixa muito comum entre os pais). Quando escuto esse tipo de frase, tenho plena certeza de que os pais estão perdidos. Eles se perderam no “como educar seus filhos”. Quando aprofundo a conversa, surge a frase que já imaginava: “Nós não batemos, mas ele fica de castigo sempre e, muitas vezes perco a paciência e grito. Olha que sempre procuro falar com calma...” Percebem a confusão? Se nós ficamos confusos imaginem os filhos. E eles quando se sentem confusos vão tentar se achar, procurar um porto seguro. Se não é em nós, em quem ou em que será?

Precisamos apreender que para sermos pais amorosos, legais, amigos, cuidadosos e que educam não é, nem de longe, preciso ser permissivo. Nossos filhos precisam de ajuda! Nós devemos direcionar a sua caminhada, guiar os seus passos, amparar e acolher as suas dúvidas. Conseguimos isso quando estamos cientes de quem é o adulto na família. Não é a velha e cruel frase: “Quem manda aqui sou eu e você tem que me ouvir!”. Você não tem que mandar e nem que ser ouvido por obrigação. Eles precisam aprender a respeitar e a querer ouvir você, não porque são obrigados, mas porque confiam no que você diz. Isso é respeito! Você só consegue isso quando dá o exemplo. Respeite e confie nos seus filhos e eles farão o mesmo com você.

Abraços,
Lila