segunda-feira, 31 de maio de 2010

O exemplo do pescador

Sempre que posso caminho pela praia. Para mim, caminhar pela areia e água é muito mais que fazer exercício, é meditar! Ouvir o som das ondas dançando ao vento, dos pássaros que buscam alimentos e sentir o sol que esquenta a pele. Ah! Que delícia! Encanto-me e me perco no tempo quando estou neste cenário.

Hoje ao caminhar me deparei com um cenário diferente. O céu e mar cinza, o que não é característico das praias no Ceará, o mar revolto por causa do intenso vento e os pássaros afoitos, talvez pelo excesso de peixes a pular. A praia mais solitária, com poucos caminhantes devido a chuva, me deu a sensação de que ela pertencia somente a mim. Enganada estava! Lá adiante encontrei um pescador. Com seu chapéu, sacola e rede. Imagem encantadora. Ele e o mar pareciam um só. Íntimo daquele lugar era mais um pássaro a buscar alimento. E de fato estava!

Parei e fiquei a observar como aquele homem agiria. Não me arrependi de ter interrompido a minha caminhada, pois o que vi foi uma grande lição de paciência, persistência e humildade.

Era como uma dança. Ele observava o mar atento e sabia onde os peixes estavam. Preparava a sua rede de pesca e adentrava ao mar com muito cuidado, lentamente a fim de não espantar os peixes. Lançava a rede e aguardava... Ao retirá-la, muitas vezes estava vazia, mas ele não desistia. Novamente a dança iniciava. Fez isso inúmeras vezes como se fosse a primeira. Não percebi nele nenhum aborrecimento, gesticulações irritadas ou impaciência pelo insucesso. Era como se soubesse que em algum momento daria certo e lhe restava apenas tentar novamente. Que lição! Um homem simples que buscava o seu alimento, sabia trabalhar e aguarda o momento certo do sucesso, sem nunca desistir. Que conexão com a natureza, que sabedoria!

Que possamos ser como os pescadores!

Abraços,
Lila

domingo, 23 de maio de 2010

Transtorno de Conduta. O que é isso?

Quem assistiu ao filme Toy Story conhece bem o personagem de um garotinho chamado Cid. Ele destrói todos os seus brinquedos e os da sua irmã. Cid tem um dos comportamentos típicos de crianças e adolescentes com Transtorno de Conduta. Esses pequenos que se divertem com o sofrimento dos outros, seja um animal ou um amigo chamam a atenção pela agressividade exagerada e falta de empatia.

O que é o Transtorno de Conduta? - "É um padrão repetitivo e persistente de comportamento que viola regras sociais importantes em sua idade ou os direitos básicos alheios" (ABP - Associação Brasileira de Psiquiatria)

Bem, nenhum menor de 18 anos pode ser chamado de psicopata, uma vez que sua personalidade ainda não está formada. Nesses casos, usamos o termo "Transtorno de conduta". Calma! Não quero dizer que as crianças com transtornos de conduta serão psicopatas no futuro, mas não posso deixar de ressaltar que esse transtorno revela um forte risco. Assim como nem toda criança com TC será um psicopata, mas todo psicopata sofria de TC.

Quando o comportamento de uma criança ou adolescente deve nos preocupar?
Quando mentem ou furtam com frequencia, desrespeitam regras constantemente, maltratam animais ou a outras crianças e demonstram agressividade excessiva. É claro que certo grau de malvadeza é aceitável na infância e adolescência, pois faz parte do desenvolvimento. Vamos dar um desconto! Até mesmo porque o TC é caracterizado pela repetição, e não por atos isolados. Eles podem vir acompanhados de hiperatividade e déficits graves de atenção.

Costumo dizer que não devemos cobrar nada de ninguém que a idade não permita. Por isso, não exija capacidade de julgamento (consciência do que pode ou não fazer) ou analise de limites de crianças menores de 7 anos. Somente a partir desta idade é que essa capacidade se desenvolve. Por exemplo: Quando um menino de 6 anos coloca o gato no microondas, ele não sabe o risco que está expondo o animal, mas um menino de 8 anos sabe. É claro que existem exceções em relação a idade como no famoso caso da menina inglesa de 2 anos chamada Mary Bell (1968). Já nesta idade era muito diferente de qualquer outra criança. Nunca chorava quando se machucava e destruía todos os seus brinquedos. Aos 4 anos precisou ser contida ao tentar enforcar um amiguinho na escola. Aos 5 anos, viu um colega sendo atropelado e não demonstrou nenhuma reação emocional. Depois da alfabetização, ficou incontrolável: pichava paredes na escola, incendiou a sua casa e maltratava animais. Aos 11 anos, Mary matou por estrangulamento dois meninos (3 e 4 anos) sem dó e piedade. Antes de ser julgada, Mary foi avaliada por psiquiatras e psicólogos e teve como diagnóstico um gravíssimo transtorno de conduta. Mary foi um caso clássico e raro de psicopatia na infância. Muitos psicopatas sofreram abuso na infância, seja físico, sexual ou psicológico. O caso citado reuniu todos os fatores.

O que torna uma criança com tendência a psicopatia?
Existem três fatores de risco: a predisposição genética, um ambiente hostil e possíveis lesões cerebrais no decorrer do desenvolvimento. Esses fatores não atuam sozinhos, eles precisam de terreno fértil. Quando a criança se encontra em um ambiente hostil, violento e com carência de afeto, os sintomas podem se manifestar.
Até então, não se conhece a cura para a psicopatia em adultos, no entanto existe a chance de mudar o comportamento de crianças com o transtorno de conduta e evitar que se tornem transgressores mais tarde.

Um abraço,
Lila
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Fonte & Sugestão de Leitura:
Gritos no vazio - A história de Mary Bell - Gitta Sereny. Editora: Gutenberg
Teorias da Personalidade - Howard S. Friedman & Mirian W. Schustack

sábado, 1 de maio de 2010

Bullying. É preciso levar a sério!

Entre os tantos desafios já existentes na rotina escolar, está posto mais um. O bullying escolar.  É um tipo de agressão que pode ser física ou psicológica, que ocorre repetidamente e intencionalmente e ridiculariza, humilha e intimida suas vítimas. Infelizmente é uma das formas de violência que mais cresce no mundo.

Geralmente ninguém sabe como agir, nem a vítima, nem a escola e nem os pais. Estes se sentem perdidos e sem apoio, pois as escolas geralmente se omitem acreditando ser apenas "brincadeira" de criança. Devido a isso, as vítimas e as testemunhas se calam e este silêncio tem um preço...

O que, a primeira vista, pode parecer um simples apelido inofensivo pode afetar emocional e fisicamente a vítima de bullying. Crianças e adolescentes que sofrem humilhações racistas, difamatórias ou separatistas podem apresentar queda no rendimento escolar, somatizar o sofrimento em doenças e sofrer de algum tipo de trauma que influencie traços da sua personalidade. Observa-se também uma mudança de comportamento. As vítimas ficam isoladas, se tornam agressivas e reclamam de alguma dor física, geralmente antes da hora de ir para escola.

O bullying, de fato, sempre existiu. O que ocorre é que, com a influência da televisão e da internet, os apelidos pejorativos foram tomando outras proporções. É preciso levar a sério a prática do bullying, pois existem inúmeros registros de crimes e suicídios de autores e vítimas do abuso. 

Como prevenir o problema na escola
O papel da escola começa em admitir que é um local passível de bullying. Informar professores e alunos sobre o que é o bullying e deixar claro que o estabelecimento não admitirá a prática ajuda bastante na prevenção. Prevenir ainda é o melhor remédio.
O papel do professor também passa por identificar os atores do bullying - agressores e vítimas. O agressor não é assim apenas na escola. Normalmente ele tem uma relação familiar onde tudo se resolve pela violência verbal ou física e ele reproduz o que vê no ambiente escolar. Já a vítima costuma ser uma criança/adolescente com baixa auto estima e retraída tanto na escola quanto no lar. Exatamente por essas características, é difícil esse jovem conseguir reagir aos ataques de bullying. Quando a vítima reage, buscando soluções e ajuda, seja através de atitudes de defesa, ajuda dos pais ou da escola, a tendência é que a provocação cesse.
Claro que não se pode banir as brincadeiras entre colegas no ambiente escolar. O que a escola precisa é distinguir o limiar entre uma piada aceitável e uma agressão. Isso não é tão difícil como parece. Uma sugestão é que o professor se coloque no lugar da vítima. O apelido é engraçado? Como eu me sentiria se fosse chamado assim? Ao perceber o bullying, o professor deve corrigir o aluno. E em casos de violência física, a escola deve tomar as medidas devidas, sempre envolvendo os pais.

Para evitar o bullying, as escolas devem:
- Investir em prevenção e estimular a discussão aberta com todos os atores da cena escolar, incluindo pais e alunos.
- Observar com atenção o comportamento dos alunos, dentro e fora de sala de aula, e perceber se há quedas bruscas individuais no rendimento escolar.
- Incentivar a solidariedade, a generosidade e o respeito às diferenças através de conversas, trabalhos didáticos e até de campanhas de incentivo à paz e à tolerância.
- Desenvolver, desde já, dentro de sala de aula um ambiente favorável à comunicação entre alunos.
- Quando um estudante reclamar ou denunciar o bullying, os pais devem procurar imediatamente a direção da escola.

Atenção: Muitas vezes, a instituição trata de forma inadequada os casos relatados. A responsabilidade é, sim da escola, mas a solução deve ser em conjunto com os pais dos alunos envolvidos.

A questão é que só a escola não consegue resolver o problema, mas é normalmente nesse ambiente que se demonstram os primeiros sinais de um agressor. O bullying só se resolve com o envolvimento de toda a escola - direção, docentes, alunos e a família.

Como a família pode ajudar

Os pais devem estar alertas para o problema – seja o filho vítima ou agressor pois ambos precisam de ajuda e apoio psicológico.
- Mostre-se sempre aberto a ouvir e a conversar com seus filhos.
- Fique atento às bruscas mudanças de comportamento.
- É importante que as crianças e os jovens se sintam confiantes e seguros de que podem trazer esse tipo de denúncia para o ambiente doméstico e que não serão pressionados, julgados ou criticados.
- Comente o que é o bullying e os oriente que esse tipo de situação não é normal. Ensine-os como identificar os casos e que devem procurar sua ajuda e dos professores nesse tipo de situação.
- Se precisar de ajuda, entre imediatamente em contato com a direção da escola e procure profissionais ou instituições especializadas.

Não se trata de estabelecer vítimas e culpados quando o assunto é o bullying. Isso só reforça uma situação polarizada e não ajuda em nada a resolução dos conflitos. Melhor do que apenas culpar um aluno e vitimizar o outro é desatar os nós da tensão por meio do diálogo. Esse, aliás, deve extrapolar os limites da sala de aula, pois a violência nem sempre fica restrita a ela.

Existe no Brasil, um projeto de Lei contra a prática do Bullying. Enquanto isso, em muitos estados você pode discar 100 para denunciar o abuso e pedir ajuda do Conselho Tutelar.

Abaixo selecionei um vídeo que pode ser assistido pelos pais e filhos. Ele ajuda a conscientizar.
Abraços,
Lila 
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Outras Opçõs de Ajuda:
Na Leitura: Bullying Escolar - Cléo Fante e José Augusto Pedra - Editora: Artmed.
Na Internet: Em http://www.bullying.com.br/ você conhece as ações contra o bullying da Abrapia.