domingo, 5 de julho de 2009

Quando os filhos mandam nos pais


Você já assistiu ao filme “A Fantástica Fábrica de Chocolate?”. Nele encontramos alguns perfis infantis interessantes: O garoto guloso, a garota extremamente competitiva, que não suporta a ideia de perder; o garoto hacker que se julga mais esperto que a maioria; o garoto pobre de ótima formação moral e a menina rica, mimada e mandona. Bem, é para esta última que eu quero chamar a atenção. Ela é um ótimo exemplo de filhos que mandam nos pais: sem limites, cheios de vontade, indisciplinados, desrespeitosos e egoístas.

Tem uma cena ótima no filme, onde esta criança quer algo é diz com voz imperativa ao pai: “Pai, eu quero isso agora!”, o pai por sua vez, já nervoso pela impaciência da filha, imediatamente vai realizar o desejo dela.

Podemos nos perguntar: Como uma criança pequena, fofinha e ingénua se torna um tirano? A receita é simples: - Realize todos os seus desejos, - Não ensine o respeito ao próximo, - Deixe que ela pense que o mundo gira ao seu redor, - Faça tudo no lugar dela e por ela, - Diga sempre sim, - A sua palavra (dos pais) é a última que conta, dentre outras coisinhas mais...

As crianças que mandam nos pais, geralmente são um reflexo de um modelo familiar onde os pais giram em volta dos filhos. Não falo de pais amáveis, carinhosos ou dedicados, falos dos pais que não sabem diferenciar amor de educação. Como diz o titulo do livro do Pedagogo Içami Tiba: “Quem ama, educa!” Essa é uma verdade no contexto da educação de filhos - sem educação, o amor torna-se destrutivo na vida de uma criança.

Muitos pais não conseguem estabelecer limites saudáveis para seus filhos, pois são frutos de uma educação marcada pela austeridade e pelo autoritarismo. Pensam que se permitirem tudo aos filhos, estarão estabelecendo uma relação afetuosa. Mas esquecem de uma coisa, que a permissividade, a incapacidade para dizer não ou os sentimentos de culpa associados a não definição de limites, são tão ou mais nocivos do que o autoritarismo, pois uma criança que cresce sem limites não tolera a espera, é incapaz de adiar a satisfação, não gosta de se sentir frustrada e não entende porque as coisas não estão funcionando como desejam. É muito provável que estas crianças tenham implicações severas para a sua socialização. Mesmo porque outros adultos e crianças com quem conviverá a partir do momento em que estiverem na escola, não estarão a altura das suas expectativas ou dos padrões a que está habituada. Por exemplo: Em casa, o pai é capaz de não assistir ao seu jornal predileto, porque o filho quer que ele brinque de futebol pela 100.ª vez.

A dificuldade em dizer não e estabelecer limites, muitas vezes estão diretamente relacionados ao sentimento de culpa. Pais que passam o dia todo fora para trabalhar, sentem dificuldade em dizer não às vontades dos filhos. Com isso, os desejos das crianças transformam-se facilmente em leis a que os adultos da casa se submetem praticamente sem contestar.
Então o que devemos fazer é dizer sempre não aos nossos filhos para que eles não se tornem mandões? – É claro que não! O bom senso, com muito amor, paciência, dedicação e uma pitada de disciplina é a receita do sucesso.

É nosso dever educar. É nossa obrigação estabelecer limites saudáveis. É nossa função instruir nossos filhos em um caminho de integridade e humanidade. E a melhor maneira de conseguirmos isso é sendo um modelo a seguir. Caso você diga ao seu filho para não mentir, e, ao tocar o telefone você é o primeiro a dizer: “se for para mim, diga que não estou”, tudo irá por água abaixo...

Espero ter ajudado em algo.
Um abraço,
Lila

3 comentários:

  1. Lila! Concordo contigo quando abordas que "A dificuldade em dizer não e estabelecer limites, muitas vezes estão diretamente relacionados ao sentimento de culpa". Muitas crianças por não terem limites e organização na vida apresentam muitas dificuldades. As crianças estão, na maioria das vezes, abondonadas por seus pais, pois passam o dia fora trabalhando. Para recompensar o tempo perdido não querem frustar ainda mais os filhos e permitem tudo. Também temos o outro lado, aquelas crianças que são jogadas no mundo. Onde os pais trabalham tanto que nem tempo para eles mesmos tem. Os filhos vão se criando no mundo, seguindo o modelo da rua. E ai já viu o futuro dessas crianças.
    Enquanto educadora me vejo com as mãos amarradas, pois quero ensinar e os alunos não estão em busca de conhecimento e sim de uma família para protegê-los, amá-los, acompanhá-los, educá-los...
    Lila! Gostei muito do teu blog, espero realizar muitas trocas contigo. Estás de parabéns. Irei diariamente acompanhá-lo.
    Beijos
    Sandra

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  2. Querida Lila!
    Que temática importante você desenvolveu e, por sinal, de forma brilhante. Considero este tema de extrema importância para nós pais sempre refletirmos. Temos que ser corajosos para enfrentarmos nossos próprios fantasmas.
    Beijo grande,
    Germana

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  3. Adorei, Lila. Esse é um problema cada vez mais comum, ao meu ver, por que as mães estão precisando trabalhar fora. Assim sentem culpa e parece que as crianças percebem isso. Eu vejo, as vezes, provocações como tentativa de obter limites, mas as mães já muito culpadas pela ausência pensam que o sofrimento do filho tem que ser entendido, perdoando a agressão, e acabam recompensando de alguma forma material.Quem está de fora não sabe se tem mais pana dos pais, ou da criança que terá problemas de relacionamento depois. Muitíssimo comum. Esse tema devia ser mais divulgado, principalmente pela mídia. Um forte abraço, Graça Melo

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