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A verdadeira elegância - Clarice Lispector
A beleza e a estética feminina, assuntos eternos. Historicamente a mulher pôde ser vista de diversas formas. Na Grécia Antiga a concepção de beleza incluía o exterior do indivíduo, como suas qualidades internas. Isto acontecia, em parte, porque a beleza incluía o fato de estar em boa forma física. Sabe-se que valorizavam a magreza, odiando a obesidade e para isso, após os banquetes, usavam a prática bulímica do vômito induzido, para não engordarem, uma prática legítima e socialmente aceita. Na Idade Média, a mulher era mais corpulenta, pois a gordura era considera erótica e sedutora. Já a mulher no século XIX passa a existir em dois tipos físicos: a primeira caracteriza-se por ser delicada, frágil e bela; a segunda, pesada e sensual, detentora de bustos mais fartos, quadris mais largos e pernas grossas. No século XX, a mulher se despiu, estava mais a vista para ser avaliada. Estar despida e ser avaliada trouxe um problema. A solução? Cobrir o corpo de cremes, vitaminas, silicones, plásticas e colágenos. A pele tonificada, alisada, limpa de manchas é a nova vestimenta. Começa a era do culto do corpo, fonte inesgotável de ansiedade e de frustração.
Diferentemente das nossas avós, hoje, não nos preocupamos mais em salvar as nossas almas e sim os nossos corpos. Mas salvar do quê? Da rejeição social. O tormento não é mais o “fogo do inferno”, mas a balança e o espelho.
Diferentemente das nossas avós, hoje, não nos preocupamos mais em salvar as nossas almas e sim os nossos corpos. Mas salvar do quê? Da rejeição social. O tormento não é mais o “fogo do inferno”, mas a balança e o espelho.
A mídia e os meios de comunicação nos “ajudam” na nossa neurose. Temos padrões ocidentais cruéis de moda, beleza, estética, e cada vez mais meninas e mulheres insatisfeitas com o seu corpo. Colocamo-nos a serviço de nossos próprios corpos, nos tornamos subordinadas da mídia, dos cartazes da rua e das revistas.
Atualmente, vivemos um momento de grande insatisfação no que diz respeito ao nosso corpo. Submetemos-nos a cirurgias desnecessárias, e mesmo assim acabamos infelizes, pois alcançarmos os padrões pré-estabelecidos da beleza torna-se uma meta impossível. Perdemos de foco a nossa identidade, personalidade, os nossos desejos naturais e sonhos como ser humano.
Começamos a viver num mundo onde o discurso de beleza feminina como promessa de prestígio, felicidade e ascensão social, reitera uma representação passiva do “ser feminina”. Insistimos na submissão, agora não somente às pessoas externas, mas a nós mesmas.
Infelizmente o que nos encarcera ao mito de embelezamento não é o fato de desejarmos cuidar da nossa aparência, mas, sim, as representações que este mito nos cria e faz com que nos sintamos invisível ou incorreta se não atingirmos os padrões estipulados para nosso tempo. É uma prisão cuja chave está na nossa mão.
Aproveitem!
Com afeto,
Lila
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Fontes que ajudaram nas Postagens: ANDRADE, Sandra dos Santos. Saúde e beleza do corpo feminino. Algumas representações no Brasil do século XX – Revista Movimento, Porto Alegre, v.9, n.1, janeiro/abril de 2003.GARCIA, Wilton. Corpo, Mídia e Representação: estudos contemporâneos. São Paulo: PioneiraThomson Learning, 2005.Lila
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